Frente Negra Gaúcha realiza formação política em webconferência
Alessandra Floyver • 3 de setembro de 2020
Palestrantes apontam possíveis causas da falta de representatividade negra em espaços de poder
Uma das linhas de atuação da Frente Negra Gaúcha é formação e participação política. Sendo assim, no dia 15 de julho, por meio de sua Direção de Formação Política, promoveu a webconferência “A relevância dos partidos políticos no sistema político brasileiro e os enfrentamentos com a questão racial”, com a participação dos professores e sociólogos Marcelo Kunrath Silva e Cassiane de Freitas Paixão. Dirigido ao público interno da FNG e convidados, o evento teve como objetivo informar e despertar o interesse político de seus integrantes, possibilitando analisar e debater a desigualdade na representação política da população negra.
Conforme Marcelo Kunrath Silva, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a população negra, que constitui a maioria da sociedade brasileira, encontra-se pouco representada nas instituições e nos partidos políticos. “A falta de representatividade política da população negra envolve diversos processos que tendem a produzir sua exclusão partidária-eleitoral. A pouca abertura dos partidos políticos às pautas e demandas raciais, a reprodução da desigualdade racial no interior das estruturas partidárias, a demonização da política partidária-eleitoral, entre outros aspectos, são alguns dos fatores que apontam para essa exclusão”, destaca ele. O sociólogo observa uma espécie de “ciclo vicioso” na exclusão política da população negra. “A forma como se estrutura a política partidária, atualmente, desestimula e, mesmo, bloqueia a participação de negros e negras; sem esta participação tende a se reproduzir a estrutura excludente geradora do desestímulo à sua participação”, ressalta.
“O Brasil é marcado por desigualdades profundas e duradouras, que se somam e se reforçam na produção de uma das sociedades mais desiguais do mundo”, aponta Kunrath Silva. “Uma das formas de expressão e, ao mesmo tempo, de reprodução dessas desigualdades encontra-se na representação política. Os segmentos dominantes da sociedade brasileira tendem a predominar em praticamente todos os espaços de representação política, seja no Executivo, seja no Legislativo. Enquanto isso, os segmentos dominados tendem a estar excluídos ou a terem uma participação minoritária nestes espaços”, afirma.
Segundo o sociólogo, enquanto negros e negras - juntamente com mulheres, trabalhadores, pessoas de baixa escolaridade, LGBTs, entre outros - são excluídos da representação política, se reproduz uma política dominada historicamente por homens brancos e ricos. “E esses homens brancos e ricos utilizam os recursos, as políticas e as leis do Estado para reproduzirem as condições que possibilitam a manutenção de sua posição dominante em nossa sociedade”, comenta.
“Existe um ciclo vicioso na exclusão política da
população negra”, afirma o sociólogo Marcelo Kunrath Silva.
Em sua fala, Kunrath pontuou que a luta contra a desigualdade racial e o racismo se desenrola em várias arenas. “Este debate enfatizou a importância da arena político-institucional como um espaço de participação e de enfrentamento da desigualdade, das violências e dos preconceitos enfrentados pela população negra no Brasil”, diz.
Finalizado sua fala, o palestrante destacou que, historicamente, o negro luta pelos seus direitos e suas ações são explícitas na sociedade, porém a sub-representação na política brasileira faz com que não haja um número expressivo de negros dentro dos parlamentos, além da falta de engajamento em alguns partidos políticos, pois a sociedade ainda se manifesta por meio de ações racistas, concluiu.
“Historicamente, o negro luta pelos seus direitos e suas ações são explícitas na sociedade”, analisa Kunrath Silva. Entretanto, ele observa que a sub-representação na política brasileira faz com que não haja um número expressivo de negros dentro dos parlamentos, além da falta de engajamento em alguns partidos políticos, pois a sociedade manifesta, via de regra, um comportamento racista em relação à população negra do País.
“Há um potencial no movimento negro”
Os dirigentes do Brasil têm sido em sua ampla maioria brancos e essa realidade política só irá mudar quando houver maior representatividade do povo negro na sociedade, além de sua participação em movimentos sociais que ajudam e apoiam sua inclusão em diversas áreas da sociedade. A observação é da socióloga e professora da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Cassiane de Freitas Paixão, que palestrou, na mesma noite sob o tema relacionado à ciência política, e, mais especificamente, ao sistema partidário do Brasil, indicando que o mesmo precisa ter um recorte racial e social, assim como de gênero.
“Temos uma política excludente, racista e sexista”,
diz a socióloga Cassiane de Freitas Paixão
“Não é à toa que temos uma política excludente, racista e sexista. As siglas e partidos representam, na sua grande maioria, os interesses de um grupo que possui poder dominante e ainda nos enxerga, enquanto negras e negros, subjugados (as) ao processo político e democrático”, avalia Cassiane.
“Os dados apresentados pelo professor Kunrath corroboram minha análise feita perante esse cenário político e revelam uma classe dominante, composta por homens brancos, empresários. Porém, há um potencial no movimento negro para discutir suas pautas e a busca de projetos nacionais”, indica a socióloga. Segundo ela, os caminhos que podemos trilhar as vésperas de uma campanha eleitoral, mesmo que diferente das anteriores, puderam ser constituídos pelos questionamentos trazidos nos comentários, nas respostas sobre entender o que é esse cenário brasileiro. Isso foi possível por meio da conscientização e também do entendimento da luta do movimento negro, há décadas no Brasil. “Seguimos com muita resistência, palavra que percorre nossos caminhos e que foram ensinadas pela nossa ancestralidade,” concluiu.

No último sábado, dia 2 de dezembro, tomou posse a nova diretoria da Frente Negra Gaúcha, durante jantar-baile realizado nas dependências da Associação dos Servidores do Tribunal de Contas do Estado. A data também marcou as comemorações do Dia Nacional do Samba. A pedagoga e defensora dos direitos humanos, Vanessa da Silva Mulet, assume a presidência em substituição a João Carlos Almeida dos Santos, que presidiu a entidade por duas gestões consecutivas. Mulet tem como vice-presidente, a bióloga e ativista negra Maria Cristina Ferreira dos Santos. O encontro foi marcado pela presença de grandes personalidades políticas, como das deputadas federais Reginete Bispo e Daiana Santos, que também comemoravam a mais recente conquista do movimento negro e de toda a sociedade, a aprovação da data de 20 de novembro como feriado nacional pelo Dia da Consciência Negra, que passa a se chamar, agora, de Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, como forma de combate à luta antirracista, proposta do qual Reginete Bispo foi relatora, e que teve atuação marcante de Daiana Santos na composição da Bancada Preta da Câmara dos Deputados. A vereadora da Bancada Negra, Cuca Congo, também se fez presente. A diretoria que irá comandar os destinos da entidade no biênio 2023-2025 está assim constituída: Presidente, Vanessa da Silva Mulet; Vice-Presidente, Maria Cristina Ferreira dos Santos; Secretária, Tânia Maira dos Santos; Substituta, Margarida Martimiano; Diretoria de Formação Política, Kleber da Silva Rocha; Substituto, Luís Carlos de Oliveira; Diretoria Social, Silvio Garcias; Substituto, Francisco Paiva Moreira; Diretoria Financeira, Eliane Carvalho Valcam; Substituto, Luís Carlos Souza dos Santos; Diretoria de Comunicação, Maria Helena dos Santos; Substituta, Aline Alves. No Conselho Fiscal, os Titulares são Euclides Martins Camargo, Édson Camargo da Cunha e Rogério Wanderley de Oliveira Ribeiro, tendo como Suplentes, Fábio Fonseca da Silva e José Guarassu Barbosa.

No dia 16 de outubro, em Assembleia Geral foi eleita por aclamação a nova Diretoria Executiva e o Conselho Fiscal da Frente Negra Gaúcha, que tomará posse no dia 16 de novembro deste ano. O grupo que irá conduzir os destinos da FNG no biênio 2023/2025 está assim constituído: Presidência - Vanessa da Silva Mulet; Vice - Maria Cristina Ferreira dos Santos; Secretária – Tânia Maira dos Santos; Substituta – Margarida Martimiano; Diretoria de Formação Política – Kleber da Silva Rocha; Substituto – Luís Carlos de Oliveira; Diretoria Social - Silvio Garcias; Substituto - Francisco Paiva Moreira; Diretoria Financeira – Eliane Carvalho Valcam; Substituto – Luís Carlos Souza dos Santos; Diretoria de Comunicação - Maria Helena dos Santos; Substituta - Aline Alves. No Conselho Fiscal, os Titulares são Euclides Martins Camargo, Édson Camargo da Cunha e Rogério Wanderley de Oliveira Ribeiro, tendo como Suplentes, Fábio Fonseca da Silva e José Guarassu Barbosa.

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