Crônica do José Alberto
Frente Negra • 10 de maio de 2021
Da Façanha Despertar
José Alberto Silva*
Façanha gaúcha foi convencer o País que os arianos chegados no Século XIX porque atrapalhavam o progresso da Europa são autóctones desta terra, onde não havia nações indígenas ou negros, quando estes chegaram com Dom Manuel Lobo em 1680. O primeiro navio negreiro data de 1530. A ciência decifra enigmas quânticos e o gaúcho quer separar o Estado do Brasil por rejeitar igual nacionalidade dos nordestinos dos movimentos populares, tipo Confederação do Equador. Ao contrário da farroupilha, de traidores e infames, se reestuda a Cabanagem no Pará, a Sabinada na Bahia, a Balaiada no Maranhão, Palmares em Alagoas. Histórias sufocadas por periódicas revoluções redentoras.
Já não contam com soldados de verdade, os mariners; o Pentágono irá dividir o Brasil, como pensou em 1964, entre negros e os que pensam que são brancos, no dizer de Chico Buarque. Achocolatados supremacistas brancos e descendentes arianos, mesmo com a hegemonia que desfrutam, White Power, reclamam não poder realizar a façanha de viver sonhos e virtudes, mesmo com a lei não escrita da discriminação sistemática. Em 500 anos loteou a África, justificou a escravidão, destruiu culturas indígenas, genocídios, envenenou o planeta, saqueou a cultura alheia, demonizou seus valores para fazerem o que temos por civilização. Gobineau quer mais, quer matar à luz do dia. Se for coisa dos maus, há conivência no silêncio dos bons.
Façanha negra gaúcha foi estruturar o Estado na terra dita de sobreviventes pelos extremos do clima. Outra foi Porongos, com farrapos emboscados para execução. No breu de favelas embarradas, igual senzalas, com lágrimas de sangue, meninas/mães embriagam bebês para não verem o pior da natureza. Poupam-lhes perceber convívio com ratos e baratas, com a fome que tira o sono, doenças, estupros que elas sofrem de policiais brancos, e, quem sabe, com a morte eventual. Não fora assim, não persistiria o racismo que atinge até a elite. Façanha que se ensaiou na eleição municipal de 2020 em
Porto Alegre foi deixar de eleger criminosos, não sendo mais produtos à disposição branca em prateleiras até para casamentos. Iludidos não consideram a falta de igualdade que não temos e outros juram não ver o preconceito que sofrem.
Façanhudos gaúchos não dizem da queixa dos negros. Porém, prisões e manicômios são reservados aos indignados tomados por doentes ou criminosos. Após exploração dos conhecimentos ou da força de trabalho, falseiam a espiritualidade negra dos terreiros, assim como tornaram loiro o Cristo dos desertos. Façanhudos se dizem realizadores de créditos negros, estes, desvalorizados com a libertação, mal pagos para construírem palácios, abrirem valas, iluminar catedrais. No coma da inconsciência coletiva vivenciam a beleza do paraíso traduzindo-o em artes.
O empoderamento rejeita a glamourização de favelas e faz a branquitude pobretã recrudescer, espicaçar racista ao perceber negros à frente ameaçando-lhes a reserva de mercado. Revoltados, ignoram o genocídio da população negra porque ficaram de fora da casta superior. Porém, ganham empregos públicos sem concursos e contratos para saque do Estado; pela ascensão, matam negros e encardidos em becos e vielas; na falta destes, abusadores matam filhos a socos ou os jogam pela janela. Debaixo da desmoralização das forças regulares por facções milicianas ferve a degradação
tomada por vida normal. Ao despertar, o negro desconfia de irmandades e amizades; aí se fala de racismo reverso, para
confundirem-se conceitos e ações.
O Adolfo despenteado sopra sanguinolências. Retintos capitães do mato e índios embriagados repetem que sofremos pela
herança negra e indígena. Alienados cantam e dançam por julgarem-se a salvo da "solução final". No nazismo perguntavam: quem és tu, um cientista, um artista? Não! Tu és judeu. Tal surpresa terão os condenados por uma única e disfarçada gota de sangue negro. O Adolfo suicida alega ameaça comunista da China, já que não fabricamos nem papel higiênico com 30 milhões de desempregados. Representam os que perderão status pelo mal que se desenha. Contrariamente às classes que se pensam elite com base em cargos e sonegações, a elite frequenta o esgoto brazil por satélites.
Em 400 anos de escravidão ao mentalizar dignidade e vingança, ao alternar reza e maldições, luz e sombra, loucura e
sanidade, a coletividade negra invocou reação cósmica sem saber o que fazia. Física, emocional e mentalmente enfraquecida pela opressão, buliu luminosidade que incendeia ao invés de orientar. Despertou força que não se controla, tipo Kundalini, ou o lado justiceiro de um coletivo de orixás. Abriu todos os chakras da terra a um só tempo ao confundir emoções de música de religião com batidas, diversão, para retomar a consciência de si mesma. Ao discutir crescentemente uma realidade que lhe é própria e única, a negrada aponta para uma façanha a ser glorificada pelo bem de
todos. Por esta razão, a Politica da Frente Negra Gaúcha (FNG) se soma à façanha de despertar a coletividade em geral e a negra em particular para a arte de conciliar interesses antagônicos.
* Integrante da Frente Negra Gaúcha e militante do movimento negro. Escreve com regularidade e publica suas crônicas nos grupos da entidade.
Crédito da foto: Freepik

No último sábado, dia 2 de dezembro, tomou posse a nova diretoria da Frente Negra Gaúcha, durante jantar-baile realizado nas dependências da Associação dos Servidores do Tribunal de Contas do Estado. A data também marcou as comemorações do Dia Nacional do Samba. A pedagoga e defensora dos direitos humanos, Vanessa da Silva Mulet, assume a presidência em substituição a João Carlos Almeida dos Santos, que presidiu a entidade por duas gestões consecutivas. Mulet tem como vice-presidente, a bióloga e ativista negra Maria Cristina Ferreira dos Santos. O encontro foi marcado pela presença de grandes personalidades políticas, como das deputadas federais Reginete Bispo e Daiana Santos, que também comemoravam a mais recente conquista do movimento negro e de toda a sociedade, a aprovação da data de 20 de novembro como feriado nacional pelo Dia da Consciência Negra, que passa a se chamar, agora, de Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, como forma de combate à luta antirracista, proposta do qual Reginete Bispo foi relatora, e que teve atuação marcante de Daiana Santos na composição da Bancada Preta da Câmara dos Deputados. A vereadora da Bancada Negra, Cuca Congo, também se fez presente. A diretoria que irá comandar os destinos da entidade no biênio 2023-2025 está assim constituída: Presidente, Vanessa da Silva Mulet; Vice-Presidente, Maria Cristina Ferreira dos Santos; Secretária, Tânia Maira dos Santos; Substituta, Margarida Martimiano; Diretoria de Formação Política, Kleber da Silva Rocha; Substituto, Luís Carlos de Oliveira; Diretoria Social, Silvio Garcias; Substituto, Francisco Paiva Moreira; Diretoria Financeira, Eliane Carvalho Valcam; Substituto, Luís Carlos Souza dos Santos; Diretoria de Comunicação, Maria Helena dos Santos; Substituta, Aline Alves. No Conselho Fiscal, os Titulares são Euclides Martins Camargo, Édson Camargo da Cunha e Rogério Wanderley de Oliveira Ribeiro, tendo como Suplentes, Fábio Fonseca da Silva e José Guarassu Barbosa.

No dia 16 de outubro, em Assembleia Geral foi eleita por aclamação a nova Diretoria Executiva e o Conselho Fiscal da Frente Negra Gaúcha, que tomará posse no dia 16 de novembro deste ano. O grupo que irá conduzir os destinos da FNG no biênio 2023/2025 está assim constituído: Presidência - Vanessa da Silva Mulet; Vice - Maria Cristina Ferreira dos Santos; Secretária – Tânia Maira dos Santos; Substituta – Margarida Martimiano; Diretoria de Formação Política – Kleber da Silva Rocha; Substituto – Luís Carlos de Oliveira; Diretoria Social - Silvio Garcias; Substituto - Francisco Paiva Moreira; Diretoria Financeira – Eliane Carvalho Valcam; Substituto – Luís Carlos Souza dos Santos; Diretoria de Comunicação - Maria Helena dos Santos; Substituta - Aline Alves. No Conselho Fiscal, os Titulares são Euclides Martins Camargo, Édson Camargo da Cunha e Rogério Wanderley de Oliveira Ribeiro, tendo como Suplentes, Fábio Fonseca da Silva e José Guarassu Barbosa.

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