Crônica do José Alberto
Frente Negra • 3 de novembro de 2020
Idiossincrasias da Negritude
Há cinquenta anos luto para obter indicação como candidato de meu Partido para concorrer na chapa majoritária para a Prefeitura de Porto Alegre. Compreendo que meu Partido tem critérios jamais atendidos por mim, mas me comprometi acatá-los pelo bem maior do nosso coletivo. Como última tentativa, eu deixei crescer minha cabeleira, visto que no Brasil achocolatados carecas podem ser skin heads ou lideranças arianas. Cada Partido, como cada negro, tem sua forma particular de luta contra nossa crescente desigualdade estrutural. Tanto no meu Partido, como no Movimento Negro, minhas duas formas de militância social e política, se dependesse de minha cabeça, tudo seria diferente. A Frente Negra Gaúcha, na busca por representatividade política, teria outro formato. Cada um é um movimento solitário sem proteção vez perdido nosso substrato coletivo. Salve-se quem puder de ratos num barco a pique. Por educação de melhor sentido de orientação, abrimos mão de individualismos pelo coletivo conforme aprendemos com iguais.
A FNG é capitaneada pela inteligência elegante do Presidente João Carlos dos Santos, seguido na Vice-Presidência pelo não menos brilhante Erico Leoti. O resto da diretoria vai ao mesmo conseguinte. Pessoas de realização pessoal mais que razoável na medida em que lhes é permitida por nosso sistema para inglês ver da nossa falsa democracia racial. Se fossem brancos, conheceriam melhores patamares da realização. Portanto, além da dignidade da ação frente à instituição para algo nunca visto em nossa comunidade, essas pessoas trazem em suas costas históricos de exemplo para aqueles que queiram ver e valorizar a autossuperação. Visa à formação política para seus membros com base em critérios pré-estabelecidos, para aqueles que não desconversem de comprometimentos integrais com a comunidade.
Com a proximidade de eleições municipais e uma lei nova que favorece com verbas oficiais, recebo pedidos de apoio para candidatos em todos os partidos. Todos os partidos gostam de ter como apêndice descartável um Departamento da Negritude. Aos candidatos, repito discurso da FNG, convido-os a se inscreverem lá, se comprometerem com aquelas propostas de eleger pessoas que nos representem na reinvindicação elementar da dignidade do pão, enfim, para uma militância responsável. Nenhum deles se apresenta. Caso eleitos, darão as costas para a FNG alegando não terem recebido apoio. Massacrado neste País feito de fracassados, ladrões e escravizados, o negro vê refletida sua imagem negativa no outro, como espelho de dores, frustrações e criminalidade. Frente a frente repetem mutuamente: este não presta! Minha memória vê isto repetir-se a cada eleição.
Para impor sujeiras inconscientes a seus iguais, alguns se apresentam soberbamente como grandes coisas em seus partidos por belíssimo trabalhinho que não se vê; se autoproclamam salvadores da pátria, jamais perguntam, pois seria sinal de ignorância; repetem seus patronos que querem o bem de todos há 520 anos. Querem ser aplaudidos de pé, venerados, reconhecidos nas urnas. À menor contrariedade, porém, soltam sua bílis com o azedume do capitão do mato. Ensandecidos, revoltados com a visão que não aceitam nos outros, chegam a espumar de raiva por cima e por baixo. Em função da despersonalização que sofremos, essas pessoas choram no travesseiro, atraem azares tenebrosos para seus espíritos ou enchem a cara com qualquer droga de fuga com que nos permitem o favor do suicídio. Frente a iguais extrapolam indignação que não têm coragem de mostrar em nenhum outro lugar, até porque não terão apoio.
Desarvorados, nossos eleitores, em geral, mostram igual desilusão. Abordados, atropelam a dignidade de criteriosas lideranças. Indignados no seu próprio meio, esquecem que nosso inimigo comum é certo tipo de réptil disfarçado de homem branco que não representa sua cor humana, é machista como apanágio dos covardes, fantasioso para disfarce de seus crimes a sangue frio. A humanidade precisa ouvir-se, estritamente, no que tenha de melhor para sobreviver e rejeitar a obscuridade de confundir. Dizem que na era de Aquário não teremos mais brilhantes individualidades políticas ou religiosas; as coletividades serão a gloria do futuro vindouro. Aquele que não puder, num prenúncio destes tempos, reconhecer e murchar as orelhas frente a uma digna coletividade perderá sua dignidade sem saber por qual razão. Atitudes assim, indignadas frente à sua própria cor, têm base a pele mais clara, um diplominha qualquer, um carro popular do ano, cabelo alisado ou apenas bem penteado como o meu.
Com que direito essas pessoas, candidatos e eleitores, podem pavonear-se para condenar a negrada que abre mão de suas individualidades em prol de um coletivo jamais contemplado? Quem será o negroide branquitude da supremacia branca para chicotear e apontar dedo sujo à dignidade de uma nação? Todos podem ser convidados a entrar num camburão, mesmo argumentando dignidade que o Estado não os confere. Já vivemos coisas assim. O poder repetiu que o atraso do País dever-se à indolência dos construtores e dos legítimos proprietários deste chão. Alienadas de si mesmas, essas raças não sabem onde nascem as razões para nossa desigualdade crescente.
Muitos tardam a recobrar a essência e sua sobriedade perdida sob humilhantes chibatadas; confirmam a ideia na cabeça dos políticos profissionais seus manipuladores que se aposentam na enganação, de que sempre é possível explorar e tirar algum proveito do sofrimento desta comunidade. Votamos para alimentar chapas majoritárias por cuja disputa nada se assemelha com nossas necessidades. Em troca, alimentamos egos equivocados desde nossas mães ancestrais até nossa descendência abandonada. Apesar dos contratempos, independente de partidos, cresce a indicação dos candidatos da FNG.
Como não temos senso comum em nenhum aspecto de nossa afirmação social, política ou religiosa, antes que seja decretado nosso holocausto nos incêndios do Pantanal, sem clara definição das verbas partidárias, sob pena de banimento sumário, sugiro três mandamentos a serem acatados por todas as individualidades, em todos os níveis de conhecimento ou posição social, pelo bem maior que é a vida do coletivo. São eles:
Primeiro Mandamento: Respeito a seus iguais em primeiro lugar.
Segundo Mandamento: Respeito a seus iguais em primeiro lugar.
Terceiro Mandamento: Respeito a seus iguais em primeiro lugar.
Ilustração:
Juliette S. Bavaresco

No último sábado, dia 2 de dezembro, tomou posse a nova diretoria da Frente Negra Gaúcha, durante jantar-baile realizado nas dependências da Associação dos Servidores do Tribunal de Contas do Estado. A data também marcou as comemorações do Dia Nacional do Samba. A pedagoga e defensora dos direitos humanos, Vanessa da Silva Mulet, assume a presidência em substituição a João Carlos Almeida dos Santos, que presidiu a entidade por duas gestões consecutivas. Mulet tem como vice-presidente, a bióloga e ativista negra Maria Cristina Ferreira dos Santos. O encontro foi marcado pela presença de grandes personalidades políticas, como das deputadas federais Reginete Bispo e Daiana Santos, que também comemoravam a mais recente conquista do movimento negro e de toda a sociedade, a aprovação da data de 20 de novembro como feriado nacional pelo Dia da Consciência Negra, que passa a se chamar, agora, de Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, como forma de combate à luta antirracista, proposta do qual Reginete Bispo foi relatora, e que teve atuação marcante de Daiana Santos na composição da Bancada Preta da Câmara dos Deputados. A vereadora da Bancada Negra, Cuca Congo, também se fez presente. A diretoria que irá comandar os destinos da entidade no biênio 2023-2025 está assim constituída: Presidente, Vanessa da Silva Mulet; Vice-Presidente, Maria Cristina Ferreira dos Santos; Secretária, Tânia Maira dos Santos; Substituta, Margarida Martimiano; Diretoria de Formação Política, Kleber da Silva Rocha; Substituto, Luís Carlos de Oliveira; Diretoria Social, Silvio Garcias; Substituto, Francisco Paiva Moreira; Diretoria Financeira, Eliane Carvalho Valcam; Substituto, Luís Carlos Souza dos Santos; Diretoria de Comunicação, Maria Helena dos Santos; Substituta, Aline Alves. No Conselho Fiscal, os Titulares são Euclides Martins Camargo, Édson Camargo da Cunha e Rogério Wanderley de Oliveira Ribeiro, tendo como Suplentes, Fábio Fonseca da Silva e José Guarassu Barbosa.

No dia 16 de outubro, em Assembleia Geral foi eleita por aclamação a nova Diretoria Executiva e o Conselho Fiscal da Frente Negra Gaúcha, que tomará posse no dia 16 de novembro deste ano. O grupo que irá conduzir os destinos da FNG no biênio 2023/2025 está assim constituído: Presidência - Vanessa da Silva Mulet; Vice - Maria Cristina Ferreira dos Santos; Secretária – Tânia Maira dos Santos; Substituta – Margarida Martimiano; Diretoria de Formação Política – Kleber da Silva Rocha; Substituto – Luís Carlos de Oliveira; Diretoria Social - Silvio Garcias; Substituto - Francisco Paiva Moreira; Diretoria Financeira – Eliane Carvalho Valcam; Substituto – Luís Carlos Souza dos Santos; Diretoria de Comunicação - Maria Helena dos Santos; Substituta - Aline Alves. No Conselho Fiscal, os Titulares são Euclides Martins Camargo, Édson Camargo da Cunha e Rogério Wanderley de Oliveira Ribeiro, tendo como Suplentes, Fábio Fonseca da Silva e José Guarassu Barbosa.

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