Crônica do José Alberto
Frente Negra • 6 de janeiro de 2021
Onde crescem as unhas
José Alberto Silva*
Tem unhas grandes aquele que extrapola limites no sentido do abuso e da violência das imposições descabidas. Se podem representar elegância ou meios de defesa, por nossas unhas entram fungos do comportamento, vírus e bactérias da alma. Se protegem extremidades dos dedos e aparentam elegância, também escondem males feiticeiros praticados pelos maus, como se dizia de um sujeito conhecido como “Mario do Pó”, do antigo Areal da Baronesa, na década de 60. Sob as unhas levava cinzas humanas e com elas prometia destruição do que assim o quisesse. Acabou como prova do suicídio involuntário que é o cultivo de equívocos, tormentos e enfermidades das unhas.
Foi necessária a eleição em 2020 de cinco jovens negros para formar a primeira bancada negra do Legislativo Municipal de Porto Alegre, para mostrar a utilidade da vontade das unhas e uma motricidade fina para movimentar reações de consciência e estimular pessoas a se juntarem à reação pacífica de uma massa comunitária. Por outra, incomodou aqueles que, a qualquer preço, mais pela ambição descabida da mediocridade subserviente do que por serem elite, querem impedir o avanço da justiça social, de uma melhor consciência, se é que temos tempo para promovê-la antes do fantasma da autofagia.
O descobrimento do pau brazil realizou, em Portugal, a ideia de exploração vigente na Europa do Século XVI, com suas nações explorando Ásia e África num loteamento de saque e selvagem violência que matou e escravizou para dar base à riqueza desfrutada nos dias atuais. O feudalismo usava de vários mecanismos de exploração e a raça era apenas mais um sendo o último pilar sobrevivente daquela ideia de poder. Nenhuma dessas nações aventa o menor sentimento de retribuição, algumas até com pedidos de “me deixem em paz” pelo perdão a seus antepassados e não aos sacrificados. Desde o Brasil Colônia, negros, mulatos, indígenas, judeus e ciganos eram vistos pela tradição branca cristã como raças impuras.
Com a chegada dos imigrantes europeus, importamos definitivamente a postura de discriminação que perdura até os dias atuais em anacrônico colonialismo cultural, difundido por autores como Herbert Spencer (1810-1903), Charles Darwin (1809-1882) e Francis Galton, importados saudosistas do feudalismo, querendo justificar o que se tem como racismo estrutural. Embora sugassem para usufruir dessas raças o que tivessem de melhor em sua cultura, nem por isto evitou-se o massacre sumário dos índios e ciganos; o antissemitismo das décadas de 30/40 patrocinado por Getúlio Vargas e, para forjar uma maioria branca, o genocídio da maior população negra fora da África, denunciada como apartheid depois dos anos dois mil, de tantas e escancaradas provas apresentadas por vídeos e dados oficiais exibidos em Durban, na África do Sul, após a 3ª Conferência Mundial contra o Racismo.
Se o Brasil é desafeto da democracia institucional, pelo mesmo conseguinte a ideia democrática de dar e receber na medida do merecimento é pouco frequente no País em seus vários aspectos sociais e culturais. A sociedade, de um modo geral, deve gratidão a esses jovens por optarem pela via pacífica de mudar as coisas. O diferencial da eleição de uma bancada negra, propriamente dita, e disto a Frente Negra Gaúcha (FNG) se orgulha de sua modesta contribuição, é que pessoas de alta qualificação chegam à Câmara de Vereadores com legítima representatividade comunitária, exatamente inspiração da FNG que propugna ordeira representatividade nos espaços de poder, simultaneamente bulindo a consciência negra no sentido de promovermos nossa própria educação, até os detalhes da autocrítica. Se é verdade que vários outros ocuparam, antes, estes cargos, é verdade, também, que não tinham com a sociedade em geral e com a negritude em particular esse compromisso público, específico, agora assumido, de mostrar as suas garras de defesa.
A Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial deveria ser admissão desta culpa nas relações de gênero, trabalho, religião, educação, justiça, saúde, racismo institucional e cultura política. Ao contrário, a branquitude fracassada redobra mecanismos de afirmação e opressão. Tanto que ainda leva representações da negritude, como endinheirados artistas e atletas, remediados empresários, profissionais liberais e alienados em geral, a pintarem-se de brancos por dentro, até mesmo “apurando” a raça ao unirem-se ao homem branco ou à mulher branca, pelo falso sentimento dos lençóis, justificados como raras exceções de sentimento limpo e puro. A eleição desses vereadores tornou difícil para todos justificar sua opção pelo lado do algoz de unhas venenosas, a não ser pela via da cegueira voluntária.
Com quais ações sociais e políticas os conservadores pretendiam responder a este visível sofrimento? Ou o veneno de suas unhas grandes tornou-se irremediável, carecendo de outra revolução propondo liberdade, igualdade e fraternidade? O acesso ao conhecimento mínimo, que possibilita a diferenciação entre o bem e o mal, está disponível e é facilitado para um número maior de pessoas do que ocorria nos anos 60. Como teimamos no erro, a vida de cada um de nós sintetiza 500 anos de história e assim como sofremos ou glorificamos a bondade e a solidariedade, também a história da humanidade compensa erros e acertos e esses jovens querem que seja pelo bem que já realizamos.
* José Alberto Silva é integrante da Frente Negra Gaúcha e militante do movimento negro. Escreve com regularidade e publica suas cônicas nos grupos da entidade.
Crédito da foto: Divulgação

No último sábado, dia 2 de dezembro, tomou posse a nova diretoria da Frente Negra Gaúcha, durante jantar-baile realizado nas dependências da Associação dos Servidores do Tribunal de Contas do Estado. A data também marcou as comemorações do Dia Nacional do Samba. A pedagoga e defensora dos direitos humanos, Vanessa da Silva Mulet, assume a presidência em substituição a João Carlos Almeida dos Santos, que presidiu a entidade por duas gestões consecutivas. Mulet tem como vice-presidente, a bióloga e ativista negra Maria Cristina Ferreira dos Santos. O encontro foi marcado pela presença de grandes personalidades políticas, como das deputadas federais Reginete Bispo e Daiana Santos, que também comemoravam a mais recente conquista do movimento negro e de toda a sociedade, a aprovação da data de 20 de novembro como feriado nacional pelo Dia da Consciência Negra, que passa a se chamar, agora, de Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, como forma de combate à luta antirracista, proposta do qual Reginete Bispo foi relatora, e que teve atuação marcante de Daiana Santos na composição da Bancada Preta da Câmara dos Deputados. A vereadora da Bancada Negra, Cuca Congo, também se fez presente. A diretoria que irá comandar os destinos da entidade no biênio 2023-2025 está assim constituída: Presidente, Vanessa da Silva Mulet; Vice-Presidente, Maria Cristina Ferreira dos Santos; Secretária, Tânia Maira dos Santos; Substituta, Margarida Martimiano; Diretoria de Formação Política, Kleber da Silva Rocha; Substituto, Luís Carlos de Oliveira; Diretoria Social, Silvio Garcias; Substituto, Francisco Paiva Moreira; Diretoria Financeira, Eliane Carvalho Valcam; Substituto, Luís Carlos Souza dos Santos; Diretoria de Comunicação, Maria Helena dos Santos; Substituta, Aline Alves. No Conselho Fiscal, os Titulares são Euclides Martins Camargo, Édson Camargo da Cunha e Rogério Wanderley de Oliveira Ribeiro, tendo como Suplentes, Fábio Fonseca da Silva e José Guarassu Barbosa.

No dia 16 de outubro, em Assembleia Geral foi eleita por aclamação a nova Diretoria Executiva e o Conselho Fiscal da Frente Negra Gaúcha, que tomará posse no dia 16 de novembro deste ano. O grupo que irá conduzir os destinos da FNG no biênio 2023/2025 está assim constituído: Presidência - Vanessa da Silva Mulet; Vice - Maria Cristina Ferreira dos Santos; Secretária – Tânia Maira dos Santos; Substituta – Margarida Martimiano; Diretoria de Formação Política – Kleber da Silva Rocha; Substituto – Luís Carlos de Oliveira; Diretoria Social - Silvio Garcias; Substituto - Francisco Paiva Moreira; Diretoria Financeira – Eliane Carvalho Valcam; Substituto – Luís Carlos Souza dos Santos; Diretoria de Comunicação - Maria Helena dos Santos; Substituta - Aline Alves. No Conselho Fiscal, os Titulares são Euclides Martins Camargo, Édson Camargo da Cunha e Rogério Wanderley de Oliveira Ribeiro, tendo como Suplentes, Fábio Fonseca da Silva e José Guarassu Barbosa.

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